A greve de um Garotinho

Uma incrível coincidência atrapalhou a candidatura de Antony Garotinho à presidência da República. Foi acusado pela revista Veja, e após por outros veículos, de …

Uma incrível coincidência atrapalhou a candidatura de Antony Garotinho à presidência da República. Foi acusado pela revista Veja, e após por outros veículos, de ser financiado por algumas Ongs que recebem recursos do Governo do Estado do Rio de Janeiro.


A coincidência: a nominata dos diretores destas organizações bate com a dos gestores de empresas prestadoras de serviço para o Governo da esposa do candidato. Que coisa, né?


O que se esperava do impoluto candidato? Uma convocação de entrevista coletiva para colocar os pingos nos is, demonstrando com dados e fatos que fora injustiçado? Uma saída "a la PT ", desqualificando a fonte? Uma resposta genérica afirmando que Garotinho é o novo, o único que pode vencer Lula e enfrentar a banca internacional?


Não se sabe por quê, mas Garotinho descartou a primeira alternativa e usou as demais para temperar a sua insólita, e ridícula, reação principal: desde o final da semana, o candidato está em greve de fome. Seu objetivo: vitimizar-se perante a opinião pública e cacifar sua candidatura contra a vontade de muita gente, dentro e fora do PMDB. As denúncias que se danem?


Qualquer leitor de Agatha Christie sabe que, para identificar o autor de um assassinato, há que procurar quem são seus beneficiários. Hercule Poirot e Miss Marple sistematicamente questionam-se acerca de quais personagens envolvidos na trama receberiam benesses, dinheiro ou, em casos de chantagem, silêncio.


No caso da postulação de Garotinho, cabe fazer a mesma pergunta: quem ganha com ela?


Certamente Garotinho, seja através da remota possibilidade de vitória, seja através de outras vantagens pecuniárias ou não. Talvez interesse à candidatura do PSDB - segundo pesquisas, Garotinho garantiria o segundo turno - mas será que Alckmin estaria nele?


Há ainda o conjunto dos apoiadores da candidatura própria do PMDB, mas este conjunto, em breve, será, como aprendemos nas aulas de Matemática, um conjunto vazio.  


Para outros entes políticos, entretanto, a candidatura é um entrave. O PMDB governista, louco para sentar-se, todo pimpão no colo do PT, abomina a idéia. Os oposicionistas, de olho em espaços em um governo PSDB/PFL, preferem a inexistência de candidatura própria, o que, diante da regra da verticalização, facilitaria coligações estaduais.


Lula, que atualmente divide seu tempo entre fazer campanha com recursos públicos e zelar pelos interesses da Bolívia, deseja o esvaziamento de todas as demais candidaturas, para liquidar a fatura no primeiro turno. E ele tem a caneta das nomeações?


A tendência é óbvia. Se nenhum fato novo surgir, a próxima semana marcará o fim da candidatura Garotinho, pelo menos do ponto de vista prático.


Resta, ainda, investigar quem ganha com a greve de fome do ex-governador fluminense. Garotinho, que sairá dessa mais leve e saudável para explicar o rolo no qual se meteu? Os programas de emagrecimento - quem sabe não surge mais uma dieta revolucionária tipo envolva-se-em-um-escândalo-político-e-perca-peso-já? Ou os chargistas, que se deliciam com a história toda?


Aposto nestes últimos? Devem estar por trás disso tudo.


E rindo de nós?

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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