Vai ser um dia muito festivo, pelo que a CUT está anunciando, este 8 de março, que algum marketeiro antigo elegeu como Dia Internacional da Mulher. Não. A CUT e as entidades feministas não estarão nas ruas para exigir providências do governo Lula contra crimes como o do menino João Hélio, despedaçado por bandidos, faz pouco. Tampouco estarão lá para protestar contra o tiro no rosto que o soldado (engajado em trabalho com crianças carentes) gaúcho levou, só porque estava de farda, durante um assalto a ônibus.

Não. Imagina que essas coisas comezinhas vão mobilizar uma instituição respeitável como a Central Única dos Trabalhadores brasileira. O que ela anuncia, com pompa e circunstância, é uma manifestação gigantesca contra o senhor Bush, presidente dos Estados Unidos, em sua visita ao Brasil. O bordão é: vamos perseguir Bush onde ele estiver durante sua visita ao Brasil.

Que ação poderosa e relevante para a vida do país, essa! Digna de aplausos, realmente. Temos de nos mobilizar para salvar os países invadidos pelos ianques. Afinal, daqui a pouco, vai que resolvam descer na Amazônia. Questões de soberania nos interessam muito. Em especial quando se trata da soberania alheia. O Brasil, rico como é, resolvido em todos os seus problemas econômicos e sociais, tem mesmo que se unir contra a guerra do Iraque e a ameaça de invasão ao pobre Irã, impedido em sua liberdade de criar sua bombinha atômica.

Que mania têm estes ianques de meter o nariz onde não são chamados! Por isso o Brasil precisa ir às ruas, gastar com a locação de ônibus, certamente paga com a contribuição dos sindicalizados, para protestar contra o imperialismo norte-americano. Eu sugiro um plus: chamar Evo Morales e Hugo Chávez para dar uma forcinha aos protestos. Poderiam fretar aviões venezuelanos e bolivianos e trazer as mulheres de lá, com suas roupas típicas. Daria um colorido especial que ficaria ainda melhor nas páginas de revistas internacionais. Um Dia Internacional da Mulher politizado como nunca houve. Todos, de mãos dadas, gritando palavras de ordem contra o tirano da Casa Branca.

Que se danem as questões brasileiras que atingem o país diariamente. A favelização crescente regada a bolsa família. A impunidade dos que têm menos de 18 anos. A progressão de pena que devolve para a rua o bando de inúteis que come e bebe às custas do contribuinte que ainda lhes paga celular e visitas íntimas. O ininterrupto roubo de dinheiro público por "autoridades" que não aram um dia na cadeia mesmo com todas as provas e evidências de seus crimes.

A CUT tem mesmo é que ir às ruas perseguir Bush. Um gesto legítimo, lindo, um orgasmo cívico coletivo ímpar, que servirá de modelo para todo o mundo, que se jogará de joelhos ao ver as imagens desta iniciativa. Parabéns, então, aos idealizadores desta marcha com todos os deuses da esquerda caquética. Só, por favor, não me enviem convite. Quero estar em casa, assistindo este grande carnaval da falsa democracia. Tremei, Bush. A CUT e as feministas brasileiras estão de olho em você.