A garota do farol

      São Paulo é uma das melhores cidades do mundo para veiculação de propaganda em outdoor. O trânsito pesado obriga os motoristas a permanecer longos …

img src="fotos/coluna_eliziario_03_12.jpg" align="right" border="1">      São Paulo é uma das melhores cidades do mundo para veiculação de propaganda em outdoor. O trânsito pesado obriga os motoristas a permanecer longos períodos dentro dos automóveis, ou porque trancou tudo mesmo, ou à espera da abertura do sinal, ou farol, como preferem por aqui - em São Paulo, apesar de não ar navios, tem um farol em cada esquina, ironizam os cariocas. Já que os congestionamentos são inevitáveis, ao menos o pessoal da criação das agências de publicidade tem caprichado no visual. o quase diariamente pelo cartaz aí ao lado, instalado na Faria Lima, umas das vias mais importantes da capital. O pior é quando o tráfego está bom, a não ser pelos excessivos motoboys, e a foto da Daniela Cicarelli ainda assim me obriga a desviar o olhar. Não conheço as estatísticas de acidentes no local, mas é de se presumir que o outdoor tenha provocado alguns.
      Há quem diga que excessivos são os olhos e os lábios da Daniela, mas, em casos assim, sou da teoria de que "o que abunda não é demais". Só não dá para dizer que ela pára o trânsito porque, neste caso, o trânsito geralmente já está parado. Há quem acredite também que utilizar uma modelo tão, digamos, chamativa, pode ser gol contra, pois o público talvez nem perceba a presença de um logotipo. O cartaz que avisto todos os dias traz estampada a grife de roupas Spezzato, que eu não conhecia e agora me soa familiar. Talvez seja cacoete de ex-revisor ficar lendo alguma coisa mesmo diante de uma foto dessas. Ou então nada tem a ver e eu só mencionei isso para evitar piadinhas. Falar nisso, enviei a coluna para a Coletiva com a foto bem grande, portanto, se sair pequena, façam as devidas piadinhas com os rapazes da redação.
      Agora, sério, a verdade é que acabei conhecendo uma nova marca graças ao outdoor. Nem teria reparado se a Daniela não estivesse ali. E sempre associarei a grife a algo muito belo. Tudo isso é óbvio e antigo, e certamente os colaboradores da Coletiva na área da propaganda têm uma opinião mais embasada do que a minha. Mas a capital paulista oferece um mercado especialíssimo para outdoors, backlights, telões e congêneres. Muitos paulistanos am mais tempo presos no trânsito do que praticando atividades cotidianas como assistir à televisão, saborear um bom livro ou fazer sexo. Precisamos de algumas compensações.
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       Às vezes é difícil dedicar o artigo a alguém. Neste caso, se fosse a uma mulher, podem achar que a estou comparando à Daniela, o que, francamente, seria muito difícil. Se fosse a um homem, bem, seria, como diria o Bill Clinton, impróprio.
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Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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