A felizarda geração dos 35 em diante #sqn

Por Flávio Dutra

Outro dia assisti a um vídeo no Tik Tok em que um sujeito discorria animadamente sobre as vantagens da geração de 35 anos em diante, segundo ele a galera mais felizarda (ele usou um palavrão que também começa com f) que já existiu. "Somos velhos e modernos ao mesmo tempo", apregoou. E saiu a comprovar o que afirmava, sempre no plural:

- nós usamos ficha telefônica, cartão telefônico e chegamos a era do celular;

- nos formamos em datilografia e sabemos mexer em computadores e  smartphones;

- somos do tempo em que uma linha telefônica valia o preço de uma casa e hoje ninguém mais tem telefone fixo em casa;

- alugávamos fita em VHS em locadoras dois anos depois dos filmes serem lançados e agora em um mês o filme já está no streaming;

- gravávamos em fita cassete as músicas que gostávamos e hoje temos o spotify a um clique nosso;

"Somos f.... Nós somos uma edição limitada, nos valorizem", conclui o entusiasta do Tik Tok.

Olha, não é bem assim e posso dizer, do alto dos meus 7.5, que tenho lugar de fala neste caso. Sinceramente, não vejo grandes vantagens nessas modernidades, a não ser para ar vergonha e pagar mico por inaptidão sobre o funcionamento da maioria das soluções oferecidas. Quando constato que minha neta de seis anos domina o celular com muito mais agilidade do que eu; quando tento usar as múltiplas funções do relógio tecnológico que ganhei de aniversário e só consigo conferir as horas; quando o computador do carro,  no meu caso só serve para sintonizar as rádios - para usar três de muitos exemplos - tenho sérias dúvidas se sou um felizardo na transição do analógico para o digital. Na realidade, virei apenas um nomofóbico, ou celular dependente, e assim mesmo sem usar todo o potencial do telemóvel.

Pra ser sincero novamente, trocaria todas essas modernidades tecnológicas por fichas telefônicas, máquina de escrever, telefone de disco, filme em VHS e fita cassete se isso representasse também uma redução de idade para 35 e menos.  

*Valeu Caldana

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

Comments