A Feira de Babel

A Feira do Livro 2006 está terminando neste domingo, dia 12. Tenho ido à Praça diariamente, por força do trabalho, já que, aos 54 …

A Feira do Livro 2006 está terminando neste domingo, dia 12. Tenho ido à Praça diariamente, por força do trabalho, já que, aos 54 anos, fui premiada pelo presidente da Fundação Cultural Piratini Flávio Dutra com uma tarefa inédita em minha vidinha de jornalista: sou, desde o dia 6, comentarista de televisão. Então, lá estou eu, no ar, ao vivo, em cores e em sobressaltos, no TVE na Feira do Livro, faceira da vida, falando de livros, da programação (enoooorme) da feira, e até fazendo escalada com o repórter do dia, direto das sombras dos jacarandás. Bonita imagem, não é?


Então, tenho de aproveitar para falar nisso, na grande festa da comunicação que é a Feira do Livro, aquela babel de palestras, música, teatro, sarau, oficinas, cinema, pipoqueiros, visita guiada ao sítio arqueológico da praça (sim, temos isso já na mui leal e valerosa), falsa baiana vendendo cocada, palhaço em perna de pau , adolescente gritando e fazendo guampinha na cabeça de repórter que não pode fazer nada diante da câmera ligada e, claro, livros e leitura.


É gigantesca a feira, chega a assustar. Contei mais de 600 sessões de autógrafo (não contei o número total de autografantes), mais de 600 atividades, fora as paralelas, que não integram a lista oficial mas que se acoplaram. Até regata tem na feira!


Não dá para acompanhar tudo, não há jornalista ou veículo que consiga, a assessoria de imprensa faz o que pode para dar visibilidade a tudo e sempre acontece de um autor ficar de beiço grande porque seu trabalho não achou espaço nem em tv, nem em rádio nem em jornal. Na quinta à tarde, enquanto eu esperava a hora de entrar no ar, fui abordada gentilmente por uma senhora que me apontou uma menina de seus 7 anos e me disse, rápida: "Já conhece a maior escritora da Feira?" Fiquei meio sem graça, primeiro porque estava de ouvido grudado no comando que vinha da produção, depois porque achei aquela menininha pequena, magrinha, com olho meio desamparado, a própria vítima da vaidade e da ansiedade de mamãe. Enfim, a Feira tem disso.


Poderia escrever páginas e páginas sobre a angústia de uma jornalista que é chamada a comentar livros e mal tem tempo de, à noite, entrar madrugada adentro mergulhada numa leitura de obrigação, para ter o que dizer com responsabilidade. Poderia fazer uma tese sobre o inexplicável de Júlio Verne ter ficado dias na ponta das vendas, batendo até Paulo Coelho e, depois, o livro de um músico (músicos, pelo que tenho visto, adoram escrever!!!) estar na dianteira, mesmo que sua banda (por melhor que seja) não esteja assim digamos nas paradas de sucesso nos últimos tempos.


É fantástico escrever sobre a Feira. Até porque hoje não quero falar do grampo dos telefones da Folha de S. Paulo e de outros jornais, até porque vão dizer que estou sendo catastrofista (!!!) com aquela minha escrita da semana ada sobre abrir o olho. Mas fica a sugestão: abram, cada vez mais, o olho. Não só os jornalistas!

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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