A estréia do Record News

Vai incomodar. E que bom que vai. A Record News, que estreou na noite desta quinta-feira, dia 27, com pompa e circunstância (a autoridade …

Vai incomodar. E que bom que vai. A Record News, que estreou na noite desta quinta-feira, dia 27, com pompa e circunstância (a autoridade maior do País, o presidente da República estava lá), tem tudo para mexer não só com o mercado jornalístico, mas principalmente com a malparada questão editorial da TV aberta brasileira. O lance de Edir Macedo é de mestre. Acertou em cheio ao preencher um buraco negro no canal aberto nacional - a falta de uma emissora dedicada à notícia e à informação.


E por que as demais empresas proprietárias de concessões não usaram este espaço até agora? Provavelmente por arrogância e inércia. Arrogância por achar que o que oferecem no cardápio noticioso de cada dia basta para quem não tem o aos canais pagos - que, por sinal, não são tão maravilhosos assim, poderiam fazer muito mais no quesito telejornalismo. E inércia por com certeza pensar que ninguém se atreveria a enfrentar a marca-líder e suas satélites neste nicho.


Assisti até o final da noite e continuo acompanhando. Quando a gente vê uma emissora que a o dia todo noticiando é que se dá conta, não só como jornalista, mas também como consumidor, a fartura de material que se tem em mãos para usar, discutir e repercutir.


A Record News é dona de um tesouro inestimável: espaço sem limites para informar. E bem informar. Para abrir frentes à discussão, ao bom debate, à colaboração, e (usando um termo que detesto por considerar de apropriação ideológica indébita) para a inclusão.


Não acredito em Papai Noel , portanto não sou ingênua para achar que todos os que acompanham as novelas cinematográficas e escapistas vão migrar para um canal que, teoricamente, vai lhes oferecer a dose nossa de realidade de cada dia. Acho que é um trabalho de formiguinha, envolve formação de público e isso não é obtido em dois, três meses. Requer tempo.


Anúncios, já se vê que não faltam ao novo canal - e não são de qualquer emporiozinho de região metropolitana. A equipe de jornalismo aproveita gente de qualidade que a Globo ou mandou em frente ou deixou escapar. Melhor: pelo que vi, não existe uma preocupação com aquele visual lindinho no vídeo. O profissional está ali para cumprir sua tarefa, o fator caras e bocas fica de fora.


As escorregadas e vaciladas fazem parte da arrancada - aliás, barriga e falta de informação completa em entradas ao vivo são coisas normais na tal vênus platinada e nas demais.


Jornalismo eletrônico é o mais difícil de ser bem produzido. Enquanto em mídia impressa você tem muito mais tempo para checar fontes e lapidar a notícia e no virtual é só editar texto, imagem e voz, quando estes existem, tendo chance de corrigir antes de adicionar. Televisão é hospício total - se sai errado, incompleto, malfeito, a correção não tem o mesmo efeito.


A Folha de S. Paulo, em seu site, registra que "a estréia do Record News, canal de notícias da Record, registrou pico de 2,4 pontos no Ibope. Cada ponto representa 55 mil domicílios na Grande SP. Por volta das 20h10, Lula e Edir Macedo, dono da Record, acionaram o botão que deu início oficial às transmissões do canal, que ocupa o lugar da Rede Mulher, transmitida no 42 UHF. Para se ter idéia, a extinta Rede Mulher costumava marcar no horário apenas 0,3 ponto no Ibope. O pico do Record News foi contabilizado no horário da entrevista gravada com Renan Calheiros, presidente do Senado."


Agora, é esperar para ver se o novo canal não só dá voz a Renan e a Lula, mas também cumpre seu real papel: criticar o que tanto um quanto outro fazem em seu exercício do poder.


Eu dou meu voto de confiança à nova rede. Não me interessa em absoluto qual é a crença de seu proprietário, assim como não me interessa a dos outros canais. Quero ver é jornalismo sério na telinha da minha tv. Isso é o que também interessa ao espectador em geral.

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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