A Estranha ? V (final)
CH 3241! Voltei ao jornal e, em menos de uma hora, já sabia tudo sobre o proprietário do carro, um comerciante do Grajaú. Eu …
CH 3241!
Voltei ao jornal e, em menos de uma hora, já sabia tudo sobre o proprietário do carro, um comerciante do Grajaú. Eu já estava com a ficha completa, endereço, telefones? e pouco depois sabia que o carro havia sido roubado pela manhã, numa rua do Méier, bairro onde o filho do proprietário fora à delegacia registrar a ocorrência.
A coisa agora se complicara. Eu não tinha a menor dúvida que fosse ela - a estranha - que estava dirigindo aquele carro, naquela esquina de Ipanema. Dirigia um carro que fora roubado, pois a placa CH 3241 era, de fato, de um Vectra prateado, 2004. Apenas para que não restasse a menor dúvida, pedi a um repórter verificar se, por acaso, o carro havia sido recuperado. E não havia.
Difícil ordenar o turbilhão de idéias que podem ar pela cabeça de uma pessoa que estava numa situação igual à minha. E aram todas! Foram perguntas e perguntas, nenhuma com resposta, apenas uma ou outra hipótese tentava explicar o inexplicável. Em vão.
O resultado foi uma noite conturbada, insone, retalhos de sonhos que viam à superfície, afundavam, misturavam-se?
Assim que a claridade chegou, pulei da cama e entrei na ducha fria.
Eu já sabia que ficar na cama só conseguiria agravar aquela imensa sensação de cansaço. Coloquei água no fogo para fazer um café e fui apanhar os jornais na porta. Mal sentara e quase dei um pulo. A manchete de um jornal popular, desses "fechados" no meio da madrugada, era em corpo muito grande: "Interpol e PF desbaratam quadrilha internacional de tráfico". Também na primeira página a foto dela - Paula Diniz - a chefe da conexão nacional, presa na véspera num hotel cinco estrelas da Zona Sul.
Minha cabeça estava rodopiando, joguei o jornal no chão, fui para a cozinha, a água secara na a, desisti, vesti bermudas, tênis, fui tomar café na rua e dar uma caminhada.
Interessante como surgem detalhes nas horas mais estapafúrdias, no caso, eu tentando encontrar uma desculpa razoável para o Márcio que, certamente, iria cobrar a minha mentira.
Voltei para casa, tomei outro banho, fui para o jornal, o Márcio já havia ligado, o desenhista da Polícia também e, na Redação, o repórter olhou-me com um ar inquisidor:
- Pois é, tentei conseguir um furo, mas não deu. Ligue para o seu amigo desenhista e agradeça por mim mais uma vez. Obrigado.
Quanto ao Márcio, como eu não havia ainda encontrado uma mentira para justificar a anterior, deixei para ligar depois.
Fim de tarde, depois da reunião de pauta, fiquei pensando em tudo que acontecera e decidi que, só no dia seguinte, iria colocar-me a par daquela trama toda. Coloquei o paletó e resolvi ir para a Zona Sul, tomar um uísque no bar onde tudo começara.
Cheguei, sentei-me na mesma mesa e pedi a bebida ao André.
Pouco depois, uma morena muito bonita, quase alta, entrou sozinha no bar, olhou o ambiente e dirigiu-se para uma mesa vazia. Sentou-se e André foi atendê-la.
Resolvi matar e enterrar, naquele momento, décadas da mais absoluta timidez. Levantei- me e fui:
- Com licença, sou jornalista, meu nome é Nestor Azevedo e estou fazendo uma pesquisa sobre comportamento humano. Posso sentar-me? E sentei?