A cueca-cuela e o alazão negro
Leticia Wierzchowski acha que alazão e zaino são raças de cavalo. Há muitos outros erros no romance A casa das sete mulheres, talvez menos …
Leticia Wierzchowski acha que alazão e zaino são raças de cavalo. Há muitos outros erros no romance A casa das sete mulheres, talvez menos pitorescos, de português e de espanhol ("de mui importância" e "tiengo", por exemplo), sem falarmos dos erros históricos. Escritor nenhum morre por errar, ou por ter uma escassa noção do idioma que usa, mas esses cavalos são de amargar, convenhamos. Não entendo é por que os editores e revisores deixaram a autora pagar esse mico. Será que ficaram tão sem jeito que nem falaram pra ela? Ou ela é do tipo que briga se alguém quer mexer numa vírgula, mesmo que separe sujeito de verbo? Agora, o romance propriamente dito é muito bom - uma saga de videntes românticas, com uma maravilhosa visão púbere de mundo -, digno de ser publicado numa coleção de prestígio como Sabrina e Júlia.
Danos morais
Leticia Wierzchowski resolveu processar Milton Ribeiro por danos morais. Alega que foi difamada pelo blogueiro, a quem acusa de racista, de ser sarcástico demais e de odiar as mulheres, principalmente se escritoras. Pelo que vi, essas acusações, menos uma, são absurdas, produtos do sangue quente da escritora ou do estilo se-colar-colou do advogado. Realmente, Milton Ribeiro foi sarcástico. Pior, deixou transparecer que não leva Leticia Wierzchowski a sério. Isso não se faz.
Acho que nós, escritores medíocres, devíamos ter uma associação para apoiar a aprovação de uma lei que estabeleça o índice zero de sarcasmo na crítica literária. Se o crítico não gostar de nossas obras, que feche a matraca, ora. Não se gastou tanto papel e tanta tinta para se ver o ego espinafrado. Uma crítica tem de ser construtiva, como a gente chama os elogios incondicionais. Então, como se depreende logicamente, qualquer crítico que desobedecer a lei deve ser condenado à prisão, a açoites e ao escárnio público. Que se revoguem as disposições em contrário.
Alazões e zainos negros e brancos
Temo pela Leticia. Imagina se os centros de tradições gaúchas ou as associações de proteção aos animais resolvem processá-la? Talvez se possa alegar mutações genéticas, clonagem, ou qualquer outra monstruosidade em pauta. Talvez até se pudesse trazer a ovelha Dolly para depor, ou o doutor Frankenstein. PS: Em tempo: a Globo, na minissérie A casa das sete mulheres, usou efeitos especiais para apresentar os alazões e zainos negros?
Deu na revista
Istoé Gente: "Como está a relação com a crítica?" Leticia Wierzchowski: "O começo foi maravilhoso e assustador. Ter uma obra adaptada pela Globo causou um vendaval. Era irada pelos leitores, mas agredida pela crítica. Aprendi a lidar com isso. Hoje já não faço tanto sucesso, então me criticam menos".
Entendi. Pra escapar da crítica, tratou de fazer menos sucesso. Bela jogada.
Resenhas & resenhas
Marcelo Backes, numa resenha para a revista Aplauso, foi dez vezes mais sarcástico que Milton Ribeiro. Nada aconteceu. O diabo é que Milton Ribeiro, alegando que o sobrenome da autora é impronunciável, a a chamá-la de Vierchoschoten. A piada é fraca. Leticia tem toda razão de não achar graça. Ainda mais que ela teve a imorredoura honra de ser adaptada pela Globo e o luxo de ver os, digamos, vacilos de seu livro consertados pelo Tabajara Ruas, grande figura. Mas acho que cometeu um erro estratégico: se não tivesse dado a mínima pra resenha do Milton Ribeiro, a coisa tinha morrido em dois ou três dias. Como partiu pro bate boca - não é menos só porque tem um advogado no meio -, centenas de internautas, que nunca tinham ouvido falar do Milton Ribeiro, aram a ler o blog dele. Pior ainda. aram a lhe dar razão, em nome da liberdade de expressão, liberdade que Leticia Wierzchowski certamente é a primeira a defender como tantos de nós que crescemos em tempos de prendo e arrebento.
Ataques & ataques
"Agredida pela crítica"? Toda crítica irônica, mesmo merecida, não é considerada crítica, mas um ataque pessoal. Agora, todo elogio desmedido não é considerado um ataque pessoal ao público leitor. É isso aí. Leitor (e eleitor, claro) tem de levar na cabeça.