A Copa e as eleições

Esta é uma semana de transição. Sai o espetáculo Copa do Mundo, entra o espetáculo da campanha eleitoral. Seria interessante, no entanto, que importássemos …

Esta é uma semana de transição. Sai o espetáculo Copa do Mundo, entra o espetáculo da campanha eleitoral. Seria interessante, no entanto, que importássemos do espetáculo que finda componentes que seriam relevantes para qualificar o que se inicia. Em época de Copa do Mundo nosso nível de exigência sobe a patamares nunca dantes vistos; só o melhor é o bastante.


Ficamos fora nas quartas-de-final, o que significa que ficamos à frente de, pelo menos 24 seleções. Em 2005, na América Latina, nossa economia só cresceu mais do que a do Haiti. Se, neste caso, nada ocorreu, e o governo responsável encaminha-se para a reeleição; no caso da eliminação da Seleção fomos inclementes, buscamos, obstinadamente, culpados e meios para que tal fato não se repita.


Nossa imprensa durante a Copa foi a fundo, as bolhas nos pés de Ronaldo foram filmadas nos mais variados planos cinematográficos. Em outras searas, é menos detalhista, como na falta de aprofundamento acerca dos motivos que levaram à absolvição de mensaleiros.


O mesmo Ronaldo foi duramente criticado por ter-se apresentado gordo para o início dos treinamentos. Temos um Estado obeso, mais capaz de atrapalhar o desenvolvimento do país do que apoiá-lo e somos complacentes.


Parreira é asperamente responsabilizado por ter escalado mal este ou aquele jogador, bem como por acumpliciar-se de velhos companheiros. Nosso presidente escalou para governar um time de amigos que veio a ser chamado de quadrilha pelo Procurador Geral da República, e nada aconteceu? Tudo normal.


Nossos resultados no futebol são muito melhores do que nossos resultados como sociedade organizada. Se, ainda que tenhamos perdido esta Copa, podemos dizer que somos vencedores no esporte bretão, quando amos a analisar nossas necessidades e realizações no campo da educação, da saúde e da segurança pública, constatamos um fiasco acachapante.


Podemos, entretanto, ficar competitivos globalmente se a disputa for para o terreno da falta de proporção nos salários pagos pelo Estado, ineficácia da máquina pública e disparidade entre impostos cobrados e serviços entregues pelos governos nas mais variadas esferas.


O momento pelo qual a a sociedade gaúcha e brasileira é grave. Se, em nível federal, prevalece a corrupção com mensaleiros e sanguessugas, no Rio Grande do Sul, assistimos a uma sucessão de governadores transformados em gestores de folha de pagamento. Uma nova agenda é imperativa.


Precisamos trazer para nossas decisões no campo da política o espírito crítico que temos em relação ao futebol.

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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