A boa inveja
Mas será que tudo que eles fazem sempre funciona? A frase tá lá no centro do pensamento quando a gente sofre daquele mal indesejável: …
Mas será que tudo que eles fazem sempre funciona? A frase tá lá no centro do pensamento quando a gente sofre daquele mal indesejável: a inveja. Zuenir já descreveu como é. Um veneno que a gente sibila e joga, claro, sem querer, pra cima de tudo o que, na verdade, ama de paixão. E pior, pensa: isso nunca vai acontecer comigo, por mais que eu tente. Fu Lana é deveras invejosa.
Prefere nem abrir as revistas de moda e arquitetura para não ser ela própria fuzilada pelo desejo frustrado ao enfrentar o sucesso que se derrama daquelas páginas. Carros, casas, mulheres lindérrimas, homens chiquérrimos, plantas e jardins descolados. Gente bonita e inteligente. Nunca. Prefere nem ver. Ignorar. Desdenhar. Diminuir. Criticar. Desfazer.
Tem muita gente assim como ela. Só que itir é o primeiro o para a cura. Será? Afinal, esse misto de cobiça e ódio é um desrespeito com as próprias capacidades. Chega a ficar exausta ao folhear as páginas de uma bela publicação e a cabeça até dói, ocupada com essas bobagens. Vocês já podem imaginar o que aconteceu quando ela viu a D2B, da Gad Design. Só não caiu de cama porque, faz algum tempo, descobriu o antídoto para si mesma. irar. Elogiar. Reconhecer. O melhor para acabar com a inveja é descobrir, primeiro, que se trata de inveja. Depois, que você adora o que vê. E, terceiro, estudar o a o para ver se aprende a fazer melhor o seu trabalho. Parece sermão de missa, mas dá certo.
Fu Lana aposentou os raios mortíferos de sua ira e apreciou os cases internacionais de branding, de gestão de marca, de estudos didaticamente colocados, gráficos sobre caminhos adotados, posicionamentos e reposicionamentos. Uma aula. Uma palestra. Várias delas.
Claro que, com seu olhar enviezado, semi-cerrado e penetrante, procurou defeitos. Desesperadamente. Encontrou talvez uma desproporção nas letras do sumário. Uau! Nada que fizesse mover um pelinho do braço de Deos. Fu Lana lembrou de uma vez que assistiu a uma palestra sobre branding vestindo uma saia que ela mesma costurou. À mão. Nada muito reto, pois desfez uma manta que comprara em Paris (hummmm), e enjembrou a tal saia. Quis criticar sobre um assunto de gigantes do design. Não foi poupada do elogio público do palestrante: bonita essa sua saia?
O excesso de crítica sempre esconde um invejoso. Zuenir Ventura, em seu livro Inveja, mal secreto (Objetiva), deixa isso bem claro. Ao usar a energia desse sentimento negativo, número um no Brasil, na construção de um aprendizado, o sujeito certamente se dará um pouco melhor. Aproveitará melhor as oportunidades, reconhecendo os talentos que o cercam. A troca do venenoso pecado pela iração explícita, mas não bajulosa, seria a prova da existência da boa inveja. Bom para Fu Lana que adotou o jargão. Ela e toda a comunidade intelectual a quem almeja pertencer e de quem morre de inveja.
Hoje, então, temos a boa inveja, o antídoto. Aquela que encara e constrói. E o melhor elogio para a D2B é: "Chega a dar nojo".