Preconceitos 31686r

Autêntico. Original. Único. Um dilema para quem pertence a uma espécie. Caso de um bicho que quer ser diferente da manada. Não era essa … 5b282j

09/11/2006 00:00

Autêntico. Original. Único. Um dilema para quem pertence a uma espécie. Caso de um bicho que quer ser diferente da manada. Não era essa a meta dos existencialistas? Fulanianos que se prezam, nem que queiram serão parecidos com a maioria. É essa sensação de não pertencer que os fazem semelhantes à Fu Lana. Um paradoxo tal qual os hippies produzirem objetos de consumo. Inevitável, dizem os pragmáticos. 3n3w6e

Outro dia, Bel Trano encontrou-a na rua e a agarrou pelo braço. Pô, tu não responde? Deixei meus recados na tua secretária, escrevi comentários em tua cloluna e nada. Fu Lana, além de desmentir a si mesma, no mesmo espaço publicado, pelo direito à liberdade de imprensa, não lê o que escreve. Aliás, prefere ver. Ainda vai escrever um livro denominado: Confesso que não li. Na agora homenageada nacionalmente Feira do Livro de Porto Alegre, diverte-se olhando com atenção cada capa, cada orelha, cada acabamento de livro. Como cada livro é resolvido graficamente. Tenta adivinhar por que o designer usou este ou aquele recurso, por qual razão aquelas cores, por que escolheu aquela letra. A tipologia é rara? É comum?

Na Feira, ela é aquela pessoa que empata o caminho dos que estão realmente interessados em comprar. a pelas pessoas sem vê-las, hipnotizada, pulando o olhar de capa em capa, viajando pelas formas coloridas e estilos completamente diversos. Acha engraçado ouvir críticas de que ali não há nada de interessante. De que não há clássicos nos balaios, por exemplo. Será que estes críticos já sabem tudo ou leram tudo o que está exposto? Reclamam até da repetição de títulos em cada barraca. Talvez fosse adequado fazer uma lista e distribuir para que cada livreiro não tenha títulos repetidos. Só a ironia permite que a gente entenda certas manifestações.

Outro dia, estava lá de novo, Bel Trano, o rei da ironia. Esse cara já está enchendo. Disse a ela que o nosso presidente torneiro-mecânico iria agraciar a Feira do Livro de Porto Alegre, com uma medalha ao mérito. Fu Lana rompeu em amargura. Torneiro-mecânico? É a mesma coisa que dizer que a futura-presidente dos Estados Unidos, Hilary Clinton, vai tomar chá com torradas com a governadora gaúcha (vestindo uma pantalha cor-de-rosa) e que vão falar de eletrodomésticos. Só o Bel Trano, mesmo, aquela mala. É possível que ele compartilhe esta opinião com os representantes da Câmara Rio-grandense do Livro, que foram protocolares na entrega da homenagem. Fossem correligionários, ou cidadãos isentos no mínimo, iriam festejar com mais ênfase. Quem sabe um agradecimento ou um registro criativo para o momento. Preferiram apenas cumprir o compromisso.

Bel Trano já estava quase apanhando quando largou mais essa: existe vida fora do PT, sabia, Fu Lana? Grrrrr! Pois fique o senhor sabendo que existe vida também dentro do partido. E que o anti-petismo, sendo o mais forte sentimento sectário, campereia por este Estado como um raquitismo, que vai enfraquecendo o ser humano até aniquilá-lo! Foi levada às pressas por suas amigas, antes que matasse ou morresse. Enquanto isso, Bel Trano ria-se desbragadamente. Fu Lana não serve para discussões racionais. Deveria voltar a se dopar pelos olhos. Voltar aos eios sem rumo certo entre as barracas, com a carteira vazia (para não gastar, pois se comprasse seria uma devastação econômica em sua conta familiar). Do que ela precisava, naquele momento, é voltar a ter os olhos vidrados, caminhar a os lentos e bêbados, dirigir sua atenção ao que a mantém viva por todos esses anos: a obra de arte editorial. Os livros e suas nuances, seus papéis, texturas, efeitos de serpentes embriagadoras que fazem sua mente escorregar pelas obras expostas, percorrendo-as como se alisasse um copo de vinho branco gelado.