Errei, erramos. DiCaprio não perdeu o Globo de Ouro para ele mesmo. Perdeu para Idi Amin. Infiltrados segue líder nas apostas para o Oscar, apesar de Babel, e Diamante de Sangue será apenas um filme para a matiné em TV a cabo. 1663y
A surpresa do finde, nas pobres e atrasadas telonas gaúchas, foi Mais estranho que a ficção. Surpresa para Fu Lana que, desinformada e, em cima da hora, entrou no cinema arrastada por uma amiga. Aliás, eram três parceiras. Elas pareciam a versão latina das chiquérrimas mulheres de Sex and the City. Pensando bem, estavam mais para Desperate housewifes. Todas arrumadérrimas ao acaso, numa noite de sábado, no verão, quando a cidade tem algo de obscuro e modorrento. Todas, claro, menos Fu Lana. Ela preferiu aplicar dois plic-placs no cabelo e destoar das multicoloridas amizades. Nem saiu para a noite, depois da sessão, preferindo derrubar um sanduíche em um boteco onde ava na TV pedaços do Planeta Atlântida de Florianópolis.
Já no início do filme, Fu Lana pressentiu a desgraça, que, ainda bem, não veio, como acontece com a maioria de suas previsões. Quando viu o ator Will Farrel, que ela já conhecia de comédias de muito mau-gosto, pensou: mas como é que esse cara está em um filme com Emma Thompson? Ou ela em um filme com ele? No entanto, os efeitos gráficos, modernos, leves e dinâmicos prenderam sua atenção no que interessava: o enredo do filme. Deram, literalmente, um corte no Will. Porque ele é um ator exagerado. Com os grafismos e com a concentração no personagem, colocaram o cara no verdadeiro papel de ator: fazer cumprir a história. Ficaram demais aqueles desenhos sobre a película, movendo-se junto com a ação do personagem. Foi aí que Fu Lana decidiu se entregar e curtir sem medo.
Para os obcecados pela realidade, Mais estranho que a ficção é perturbador. O nonsense da história, com ares de hiper-realismo, dá nos nervos de materialistas e tecnocratas. Ficamos procurando uma lógica que não existe e perdemos um pouco o equilíbrio, mas a sensação é de delírio. Fu Lana também ficou procurando sentido naquela história maluca. Perdeu tempo, pois o melhor seria desistir de raciocinar, logo de cara. Um personagem contemporâneo à própria escritora? Sua vida narrada por ela? Ele a procurando para mudar o final da história? Muito doido! E muito bem feito. É um prazer ver Emma dar um banho de atuação, mesmo em um papel que, parece, não exigiria tanto. O sofrimento da sua personagem, verídico, dá uma vontade de ter nascido com o dom das letras. Com o dom da sensibilidade. Dá vontade de fazer pesquisa como ela o faz. Vai escrever sobre doentes? Vá ao hospital. Vai tratar sobre mortos? Ao necrotério. Quer um acidente? Vá para a beira da estrada, e espere. E tudo isso, ela faz sem maquiagem.
Queen Latifah, fazendo a assistente de escritores, é um deleite para Fu Lana, fã da atriz, que inclusive em filmes de segunda ou terceira classe segura todas as petecas do mundo. Ao lado da atriz e modelo Gisele Bündchen, por exemplo. Queen tem o dom da empatia. No entanto, à primeira vista, o filme em que ela e Farrel estão juntos pode parecer uma bomba de bobagens baixas, mas a história, na verdade, é muito boa.
Mais estranho que a ficção fica ainda mais interessante depois da entrada de Dustin Hoffman. Depois de ter participado de umas comediazinhas infames com a família Focker, Dustin volta a presentear os apreciadores do cinema com charme e carisma. E o seu personagem tem uns textos impagáveis. Fu Lana alerta, para desinformados, que pode ser útil saber que Golem é um ser artificial mítico, associado à tradição mística do judaísmo, particularmente à cabala, que pode ser trazido à vida através de um processo mágico.
Depois do filme, e do sanduíche, Fu Lana foi se informar e ouviu por aí que a história deveria ter sido mais densa, trágica e filosoficamente mais sombria do que o resultado final. Particularmente, ela gostaria mais de uma bruma filosófica, mas, mesmo com esta versão mais superficial, adorou dar gargalhadas descompromissadas, em alto e bom som, para o desespero de suas amigas fashion.
A dúvida, entre tragédia e comédia, fica no ar. Ora queremos sangue, ora lágrimas, muitas vezes queremos romance, e outras vezes queremos verdade e informação. Quando vem tudo em um só filme, ele funciona. Pelo menos para Fu Lana. A película não levou mais do que duas estrelas no site hollywood.com, mas vale a pena.