Já vi esse filme… 516t71

Dejà vu. Não basta a complicação da nossa vida cotidiana, o pessoal precisa da viagem da ficção. Como, por exemplo, buscar no ado recente … n1j4y

02/02/2007 00:00

Dejà vu. Não basta a complicação da nossa vida cotidiana, o pessoal precisa da viagem da ficção. Como, por exemplo, buscar no ado recente de quatro dias, a correção de falhas importantes. Um designer poderia corrigir uma imperfeição de um livro, produzida por um lapso momentâneo, uma bobeira do produtor. Diz em uma versão popular dentre as cem variações da lei de Murphy - e ninguém sabe exatamente de onde ela vem, até que procure no Google - de que, se existe a probabilidade de algo dar errado, ela dará errado, na hora mais inadequada, fazendo o maior dano possível. 3ii18

Seria um desastre para essa lei, se as situações sugeridas em Dejà  vu fossem possíveis. Poderíamos rever nossos erros, boicotar nossas próprias ações de sabotagem. Tudo aria a dar certo, com direito a modificar o replay. Um sujeito poderia impedir o Gabiru de dar aquele toque para dentro da goleira lá no outro lado do mundo. Tá certo que o mundo não seria o mesmo, mas haveria uma chance de reverter destinos. E sem a ação dialética. Mudaria o conceito de ação e reação. Teríamos sempre novas ações. Não haveria direito à síntese, apenas à revisão sumária, correndo o risco de olharmos sempre para trás e nunca mais para a frente. Hoje, a visão para o futuro é obrigatória. No futuro a parir de hoje, ficaríamos de olho em nossas falhas e o presente jamais seria o mesmo. Não haveria memória, apenas um dejà vu.

Viagens sempre movem os ânimos de nossa pobre heroína.

Em quatro dias, poderíamos reverter o lançamento de bombas que marcaram para sempre o universo e acabaram com nossos sonhos. Poderíamos continuar sonhando, se dejà vu fosse possível.

Infelizmente, aos olhos do conhecimento, ao menos do pouco conhecimento, o filme Dejà vu, com Denzel Washington é assim: improvável. No entanto, é tanta a parafernália e são tantas as explicações de física que a gente acaba se perguntando: será que não e mesmo possível viajar no tempo e mudar o presente? Mesmo que seja por quatro dias? Para todos seria uma ferramenta útil, mas ia ser uma barafunda maior ainda do que já vivemos. Depois que inventaram o perdão, ficou um pouco melhor, mas isso não ajuda muito. 

A vida é cheia de dejà vus. Desde Marcel Proust, já é possível perceber a realidade desta maneira. Os que curtem os preceitos espíritas explicam essas sensações como encarnações adas. Conceitos da física, aplicados à la Einstein, ainda não tinham sido usados de forma assim tão casual, sem o entorno de mistério e fantástica ficção da ciência.

Fu Lana lembrou de casos como do Capitão Nemo em suas viagens por léguas submarinas, onde encontrava personagens fantásticos. Nada comparável a Harry Potter e seu ambiente de tribruxo. Outras viagens absurdas vieram a sua mente: por dentro do corpo humano, para frente e para trás no tempo e no espaço. Em Dejà vu, a viagem fica apenas no tempo e por um curtíssimo período. Apenas o suficiente para trocarmos de roupa. Um convite a darmos dois os à frente e um para trás. A história funcionaria como um aparelho de vídeo antigo. Tranca, anda, reposiciona, trunca, anda, reposiciona. Talvez desse tempo para a gente consertar uma pá de coisas.

O beijo que não demos por dúvida. O abraço que foi adiado. E a droga daquela capa que rodou descentralizada e o produtor comeu moscas, não corrigindo a tempo.

E há quem cobre que o filme não é plausível. Plausível é a disposição de se criar uma ficção quase verossímel. Plausível é uma realidade em que já não há limites para o que é certo ou errado. Plausível é um mundo em que todas ou quase todas as dúvidas podem ser esclarecidas pela busca na internet, sobre qualquer assunto.

Quem diria que não precisaríamos mais de encicliopédias imensas? Se, em um filme de ficção, nós colocássemos um terço do que existe hoje em resultados práticos da tecnologia, alguém diria: não é plausível. Acontece que clonar pessoas ou animais, transportar zilhões de dados em bites ou seja lá o que for, nada disso seria plausível há apenas quinze anos.

Dejà vu é mais uma tentativa de arriscar um o a frente, e, é claro, dois para trás, já que o filme é um vai-e-vem.

Há, no entanto, um porém: a fórmula cinematográfica que brinda o mercado com alguns itens inarredáveis como: romance, drama, medo, adrenalina e ? finais felizes. Seja qual for a história, sempre é adequado, indicado, exigido e aprovado um bom final feliz. Já que tem que terminar, que seja uma boa lembrança para quem deixa o cinema.

Fu Lana detesta finais felizes. Eles têm gosto de ficção.