Fãs da ficção 4w952

Sabe por que um filme como Elsa e Fred faz um sucesso bárbaro? Porque somos bárbaros, na verdade. Não temos a formação afetiva para … 1h1w6y

24/11/2006 00:00

Sabe por que um filme como Elsa e Fred faz um sucesso bárbaro? Porque somos bárbaros, na verdade. Não temos a formação afetiva para sermos filhos e netos. Nem depois de adultos perdoamos nossos pais pelo domínio que exerceram sobre nós, na juventude. Não temos a elegância de considerar suas vontades como dignas. Apenas o poder nos move. A espécie humana não deu certo. Fu Lana já disse isso muitas vezes e até parece que ela não quer que as coisas dêem certo no mundo, só para confirmar sua tese. 6l1710

Acumular para a velhice. Quantos de nós não pensamos sobre este desejo, que adiamos a cada grana desperdiçada ou investida, ou mesmo torrada? Um pé-de-meia. Na nossa maturidade, outros são os jovens que estão à espreita com suas necessidades. Se somos econômicos, eles precisam colégios, festas, roupas. São os direitos universais, dizem eles. São obrigações, nos convencemos, adultos honestos que somos. No entanto, os adultos têm poder temporário. Poder de manipular realidades, de mudar prioridades. E enquanto estão no auge de suas condições psico-físicas, podem exercer o direito ao poder.

Os adolescentes, jovens ou semicrescidos (ainda não inventaram novas categorias) observam esta fase e contam os minutos: me aguarde, jacaré, que a lagoa vai secar. E assim,  trocam os papéis.

Nós, aqueles que éramos seres energéticos, lindos, brilhantes, rebeldes, nos transformamos, primeiro, nos adultos e depois nos quase idosos, e vamos assim perdendo terreno. Para aquelas pessoinhas tão lindas, que estão avalizadas pela condição filial, condição que pressupõe, de chofre, o apreço pelo bem-estar de seus progenitores, condição que deveria nos colocar, em princípio, ao lado do bem. Porém, a realidade não é um roteiro politicamente correto. Nada funciona exatamente assim. Há subterfúgios para a volta, o troco, a vingança, contra o abuso de poder, na forma de um novo abuso. Agora somos nós que mandamos, pensam as belas crianças crescidas. O poder.

O progenitor percebe, neste exato momento, que está numa fria. O que ele guardou para a velhice a a ser novamente ameaçado de desapropriação; o que ganhou com suor e lágrimas, e trabalho, é claro, a a ser o "patrimônio familiar". Ou seja, é a época das aves de rapina mostrarem suas garras. É triste, mas Fu Lana tem razão. A espécie humana vai ter que provar ainda a que veio. Se para o bem verdadeiro da humanidade ou para a destruição. Duvideodó, diz a baixinha enfezada.

Elsa e Fred. Somos nós, amanhã. Alguns, hoje. Fugindo dos descendentes, escondendo o jogo, para viver um pouco melhor. Só quem ainda não tem filhos (crescidos) pode acreditar que o mundo é redondo, um amor, coisa querida.

Sobre a nossa velhice? Depois de assistir a Elsa e Fred, nos convencemos que não será tão ruim, se conseguirmos a liberdade daqueles dois do filme. Para quem sempre foi pôrra-loca, envelhecer não quer dizer nada, mas é bom prevenir. Ao dar sinais de perda de uma partezinha sequer de sua sanidade, da perda do mínimo controle sobre o cotidiano, sempre haverá alguém para "ajudar" a istrar seus bens. Melhor não possuir nada? Seria abrir mão de um direito. Por isso Elsa e Fred fazem tanto sucesso. Porque nós não fazemos sucesso algum.