Cinema em dose tripla 3m6522

O Oscar da paz. Deveria ser o prêmio concedido a Clint Eastwood na edição da festa do cinema em 2007. Os dois lados de … 26614f

22/02/2007 00:00

O Oscar da paz. Deveria ser o prêmio concedido a Clint Eastwood na edição da festa do cinema em 2007. Os dois lados de uma mesma tragédia, em um efeito de ação e reação, paralisariam as atuais forças de morte. Assim queria crer Fu Lana. 4r5p3d

A América, sem dar muitas explicações, mentindo, põe seus filhos à morte, usa-os para conseguir mais dinheiro, afasta os mais ricos da linha de frente. O Japão convoca os seus para o sacrifício, não promete a vitória nesta vida, oprime pela disciplina e não discrimina seus mártires. Com os erros e defeitos de ambas as partes, temos a sensação de pertencermos à mesma espécie. Clint faz o mesmo que em Babel, Crash e outros filmes contemporâneos, onde, na tela, convivem próximos seres de culturas diferentes. Com a diferença de que havia realmente uma distância oceânica entre os americanos e os japoneses. Naquela época, dificilmente se percebia que habitávamos o mesmo planeta. A visão moderna, multifacetada, que convive com a pluralidade, recai sobre os anos 40, quando o mundo funcionava a favor ou contra, sob meias-verdades.

Clint leva o olho do homem do século XXI para o mundo da Segunda Grande Guerra, sem modificar os fatos. Antes, pelo contrário, pesquisa, reconstrói e coloca-os em foco, aprofundando a perspectiva. Devolve aos personagens de carne e osso, em cenas pródigas de sangue e vísceras - características da guerra -, a alma então dilacerada, que sempre existiu, antes mesmo dos conceitos de coragem, covardia, disciplina ou honra.

Se a Academia irá colocar estes argumentos na balança, não se sabe, mas Scorsese corre o risco, em mais uma daquelas circunstâncias inexplicáveis: seu trabalho, que é mais cinema, pode, de novo, não levar a estatueta, devido à existência de outro concorrente, que é mais vida. Afinal, tudo tem sempre o outro lado.

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E outros lados, principalmente quando trazem os bobs noturnos da Rainha da Inglaterra ou a casa extremamente bagunçada do seu Primeiro-ministro, tornam-se ainda mais interessantes para um público afeito, sim, à informação, mas ainda mais ao entretenimento e ao voyeurismo. A tendência de apresentar os bastidores de celebridades sempre resultou em sucesso. Se ainda a obra contar com o talento de uma dama do drama e as personagens sairem de um cast de alvos dos tablóides ingleses, torna-se um filme obrigatório tanto para Fu Lana quanto para os plebeus em geral, que dariam qualquer coisa para espiar os modos da realeza. 

É bom deixar claro que Lady Di não era exatamente uma heroína ou uma flor de pessoa. Apesar de famosa, bela e carismática, havia naquelas declarações íntimas, queixas e lamentações feitas aos jornais - apresentadas em forma de documentário -, um quê de pobre vítima e uma pitada de falta de decoro. Fu Lana precisou deixar de lado suas lacaias opiniões sobre a princesa do povo para irar a fronte severa e firme da atriz Helen Mirren, no papel principal em que interpreta uma mulher insensível, solidificada à forja do poder, que se torna irônica e agressiva até em um simples bom dia, e que leva, para longe da imaginação do povo, a percepção de uma sábia senhora idosa.

Depois de ver A Rainha, cai por terra a idéia de que os nobres ingleses possam se divertir, e sentir, como pessoas normais. É a decadência do regime posta em marcha acelerada. Nenhum sacrifício do povo vale a sustentação desse castelo de aparências. 

Já Blair foi descrito como um personagem frágil e oscilante, por vezes heróico, atraente e bem humorado, por vezes rasteiro e fraco, que, conforme vaticinava a poderosa Elizabeth, teria a sua vez na comada e interesseira força de destruição da imprensa.

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Dreamgirls, lararalá!!! Oh, não! Vão cantar de novo! Essa era a expressão dos espectadores do filme com Eddie Murphy (em um papel secundário) e o oscarizado Jamie Foxx (por Ray Charles). Um filme sobre música nem sempre significa um musical e a platéia, ao que parece, não esperava. Na hora dos shows, a reação era dez! No entanto, durante os diálogos, nas eventuais interpretações, o amuo era coletivo. 

O argumento do filme repete a vida real. Beyoncé Knowles é a atriz badaladíssima (a que está no poster), mas quem canta muito mesmo é Jennifer Hudson. Tal como no roteiro, em que a mulher mais bonita (vendável e gostosa) é a escolhida para a posição principal.

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Borat, o filme. Aquela tanga verde-limão indecente e pornográfica, de mau gosto e nenhum mínimo pudor, refrata qualquer intenção curiosa ou profissional de Fu Lana que ainda resiste em ver a fita?