O rebranding da Seleção por trás de Ancelotti

De Lucas Dalfrancis, para o Coletiva.net

Lucas Dalfrancis é CEO da Notório | Estratégia & Reputação. - Créditos: Karine Viana

A Seleção Brasileira fez o que marcas fortes precisam fazer quando os símbolos se esvaziam: colocou o orgulho na gaveta e foi buscar repertório onde nunca tinha ido. Não é sobre futebol. É sobre reputação. E sobre o que representa, do ponto de vista da marca Brasil, assumir que sozinhos não estávamos mais chegando lá.

Carlo Ancelotti não é apenas um técnico. Ele é um arquétipo de transição. A decisão de contratá-lo projeta uma Seleção que reconhece o valor da escuta, da metodologia e da mudança. E isso diz muito para quem estuda posicionamento.

Todo processo de rebranding bem-sucedido começa por reconhecer que a percepção não é mais coerente com a promessa. Foi isso que aconteceu aqui. A Seleção ainda carregava a retórica da ginga, mas já não entregava encantamento. Quando há dissonância entre identidade e entrega, há ruído. E onde há ruído, é preciso revisão.

Em tempos de narrativas frágeis, a força está na franqueza. itir que a resposta pode vir de fora não enfraquece uma marca. Fortalece sua maturidade. É a diferença entre manter-se numa bolha de autoafirmação ou abrir espaço para um novo ciclo de verdade.

A Seleção Brasileira é mais que um time. É um ativo simbólico, uma das marcas mais valiosas do país. E, como toda marca global, precisa se reinventar. Não com espetáculo publicitário - mas com decisões que geram confiança.

Ancelotti, nesse sentido, é um reposicionamento silencioso, mas profundo. Ele não é um naming, não é uma nova identidade visual, mas é o que realmente importa: um ajuste no core da marca, na sua promessa e na forma de cumpri-la.

Trazer um estrangeiro - ainda mais sendo a Seleção que sempre se orgulhou do seu "saber fazer" - é uma declaração pública de revisão. E reputação também se faz assim: reconhecendo os ruídos, recalibrando o tom e atualizando o discurso.

Na gestão de imagem, fingir certeza é mais arriscado que itir dúvida. O Brasil não trocou só de técnico. Trocou de postura. E talvez esteja aí o maior gol dos últimos tempos.

Lucas Dalfrancis é CEO da Notório | Estratégia & Reputação.

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