O poder das biografias - algumas das falas mais inspiradoras da edição 2025 do SXSW
De Annie Müller, para o Coletiva.net

Estar no SXSW é estar entre as cabeças mais incríveis do planeta. E este artigo é sobre isso: a potência das biografias e quais delas mais me impactaram durante o festival. Afinal, o que uma conversa entre o presidente da IBM Arvind Krishna e o governador do Illinois JB Pritzker tem em comum com o papo que rolou entre John Fogerty do Creedence e Tom Morello do Rage Against the Machine? Seria fácil dizer que talento, trabalho e olhar no futuro. Mas é mais. É sobre um ímpeto imparável de realizar coisas novas.
John Fogerty foi enfático na mensagem direcionada aos novos músicos e profissionais da indústria criativa: "não copiem a gente, o ado. Criem. Como criar? Fazendo. A recompensa é o fazer. Se ocupem, garotos!". Parece que a mensagem pegou diretamente a GENZ. Ela que não é apenas o maior público consumidor hoje, mas também um dos assuntos que atravessou diversas trilhas de conteúdo do festival.
Diante de um esquadrão da Nasa conversando sobre a comunicação da próxima Missão Lunar, assisti uma da palestrantes, Trina Patterson, da empresa Firefly Aerospace, se emocionar e chorar junto da plateia. A biografia da alta executiva derramando o que tem de melhor: a própria humanidade. "Eu explico aos meus filhos que o tempo longe deles é o tempo para contarmos uma nova história depois de mais de 50 anos. Voltaremos a Lua em breve e eu quero conseguir engajar não apenas o mundo nessa grande história, mas também a minha família". A palestra foi uma aula de publicidade pura, tendo como produto a Lua e a marca, claro, a Nasa. "Na corrida especial, quem tiver um melhor storytelling ganha pontos, não é apenas sobre tecnologia". Aprendizados da Terra ao espaço.
Outra biografia de quem sou fã e não nego é a de Brené Brown. Pela primeira vez a escutei ao vivo. Na sessão que assisti, aconteceu a gravação do podcast com o ex tenista norte-americano Andy Roddick. Ambos deram um show de inteligência, posicionamento e humor. Com analogias entre a vida, o ambiente de trabalho e o jogo de tênis, para os dois o olhar positivo é o que diferencia: "jogar para ganhar no lugar de jogar para não perder. Como falamos e pensamos faz toda a diferença", narrou Brené. Adiciono mais uma frase dela porque mulheres na arena mexem comigo em especial: "A conexão entre esforço, resultado e alegria ninguém fala. É preciso fazer com prazer".
Eu poderia falar sobre tantos outros palestrantes e profissionais cujas bios me inspiraram e ensinaram, mas vou contar rapidamente sobre a Jay Graber, jovem programadora e empreendedora que desafia as big techs com a Bluesky, rede social independente com vinte e um colaboradores, mas que já conquistou mais de 32 milhões de usuários. Quando questionada sobre ser assediada e talvez comprada por alguns bilhões, a jovem respondeu: "independente como for, estarei à frente e a rede continuará centrada no usuário, pois acreditamos que o dinheiro segue o valor, não o contrário". Tapa na cara. E pela firmeza da garota, que já conquistou quase o impossível, vai seguir nesta linha mesmo.
Escutei Michael Sprenger, presidente da Sony AI falar uma frase muito importante - e instigante: "nós moldamos as ferramentas e então as ferramentas nos moldam". É a correlação entre criador e criatura que vivemos todos os dias como usuários das redes sociais, dos apps e agentes de inteligência artificial etc. Como podemos moldar e usar as tecnologias sem nos escravizar de volta? Mais uma provocação certeira e que se vinculou diretamente com um dos temas centrais dessa edição do SXSW: a saúde social e a longevidade.
Foi justamente Kasley Killam em sua sessão de abertura sobre saúde social quem deu o norte do festival: "a saúde social será o que hoje é a saúde mental. Estamos numa epidemia da solidão e prova disso é que 20% das pessoas adultas no mundo dizem que não tem com quem contar". Graduada em saúde pública em Harvard, Kasley tem formação em um campo de estudo até então inédito. Não é para se impressionar?
Ainda sobre elas, as biografias. Uma das minhas falas preferidas foi a de Frederik Pferdt, o criador do Google Innovation Lab e autor do livro que estou lendo e adorando, What's Next is Now. A palestra foi centrada no tema do livro, o futuro que nós desejamos e que somos capaz de criar e realizar. Frederik me marcou especialmente pelo conceito do "otimismo radical", uma espécie de otimismo que a longe da positividade tóxica, mas que olha para tudo como capaz de ser moldado, modificado, porque tudo é orgânico e cada vez mais maleável. "Precisamos ter uma curiosidade compulsiva, continuarmos como nascemos, crianças curiosas". A curiosidade que nos trouxe até aqui, até a GenAI, até as inovações que se falou e mostrou tanto no SX.
Michelle Obama, a mulher mais amada dos Estados Unidos, conta que uma de suas filhas perguntou sobre quando sabemos que nos tornamos adultos: "talvez nunca", respondeu a mãe. A resposta, vinda de uma mulher da potência e do histórico de Michelle, é surpreendente.
Eu sou uma adulta batendo à porta dos quarenta anos neste 2025 e independente do conceito social e etário sobre adultecer, eu quero continuar me inspirando na curiosidade das mentes brilhantes que ouvi lá e aumentando a minha capacidade de realização - isso, sim, o que distingue os seres mortais sencientes dos demais animais - em especial aqueles nos palcos do SXSW.