Comunicação pública. Quando a mensagem não é clara, o ruído governa

De Arthur Lencina, para o Coletiva.net

Arthur Lencina é CEO da Agência Euro. Além disso, é publicitário, especialista em Publicidade e Comunicação política e de governos. - Crédito: Arquivo Pessoal

Vamos direto ao ponto: comunicação pública não é enfeite, é estrutura. É como o alicerce de uma casa. Se for mal feita, o discurso desmorona, a confiança balança e a percepção do cidadão afunda. Governos que tratam comunicação como uma peça de teatro improvisada perdem o protagonismo na própria história.

Não adianta fazer um post bonitinho, soltar uma nota aqui, um vídeo ali e achar que isso é comunicar bem. Publicidade isolada, marketing sem contexto e comunicação desalinhada com a gestão são como instrumentos de uma orquestra desafinada. Agora, quando esses elementos são planejados em conjunto, com estratégia, coerência e propósito, aí sim a sinfonia toca bonito. E a população ouve - e compreende a mensagem.

Outro ponto crucial que pouca gente fala: cada agente político é um canal. Prefeito, vice, secretários, coordenadores? todos comunicam, com ou sem intenção. A questão é: estão fazendo isso de forma alinhada, estratégica e eficiente? Ou cada um toca sua pauta como se estivesse em um campeonato de quem fala mais?

Um governo que quer ser entendido precisa entender, antes, que comunicação pública é muito mais do que divulgar feitos. É sobre criar relacionamento, estabelecer confiança e, principalmente, gerar pertencimento. E isso só acontece quando há um fio condutor entre a instituição e quem fala em nome dela. Não se trata de padronizar vozes, mas de construir uma narrativa única com múltiplas personalidades.

Por isso, quando a gente conversa com gestores públicos, costuma fazer uma provocação: você se preocupa com o jurídico, com o orçamento, com a legislação - como deve ser. Mas e com a comunicação? Quem está cuidando disso? Qualificado, alinhado, estratégico? Ou você segue acreditando que "quem tem que aparecer é a obra"? Porque se for assim, sua gestão vai seguir sendo percebida como genérica, invisível ou pior: confusa.

Comunicar bem não é sobre "aparecer mais", é sobre fazer sentido. É sobre transformar ações em percepções. E mais: é sobre construir legado. Afinal, o que não é dito da forma certa pode ser interpretado da forma errada - e aí não tem obra, decreto ou evento que conserte.

Em um tempo onde o cidadão está mais crítico, mais conectado e com menos paciência, uma gestão que se comunica mal perde a chance de mostrar que está fazendo certo. E pior: abre espaço para que outros contem a história por ela. Spoiler: nem sempre com boa intenção.

Se a grama do vizinho parece mais verde, talvez seja porque lá tem alguém cuidando melhor - leia-se: da comunicação. E você, vai seguir deixando esse jardim nas mãos de qualquer um ou de uma pessoa só executando, que fica responsável por tudo e não consegue tempo para planejar, pois está com o seu  tempo tomado na operação?

Arthur Lencina é CEO da Agência Euro. Além disso, é publicitário, especialista em Publicidade e Comunicação política e de governos.

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