Clara Regina foi casada com Arnoldo durante 11 anos. Tiveram dois filhos, um casal. 425f2r
Ao final da festa de oito anos da filha, naquela hora que se fica esperando a chegada de pais retardatários para apanhar seus filhos em festas infantis, Arnoldo virou-se para ela e comunicou solenemente:
? Augusta Maria está grávida, sou o pai e estou saindo de casa para viver com ela.
Caiu o mundo para Clara Regina. Subitamente, ficou sabendo que seu Arnoldo tinha uma relação profunda com sua secretária e que sairia de casa em função disso.
Arnoldo exercia a advocacia. Dedicava-se ao Direito do Trabalho e vinha tendo relativo sucesso. O apartamento de três quartos no Rio Branco estava quitado e o casal já havia adquirido um terreno em Canasvieiras.
Clara Regina era formada em istração de Empresas- ênfase em Análise de Sistemas pela PUC. Trabalhou no início do casamento, porém a chegada de Lúcia Helena, a filha aniversariante, forçou a dedicação aos filhos. O Arnoldo preferia assim?
ado o impacto da separação, na opinião de Clara Regina, o Arnoldo revelou-se um ex-marido melhor do que fora como marido. A pensão era paga religiosamente, as crianças tinham a atenção dele e ela até já encontrara com Augusta Maria na sala de musculação do clube.
Do ponto de vista profissional, Clara Regina constatou que perdera tempo, mas que poderia recuperá-lo. Entrou em uma empresa de informática como Vendedora Jr e, logo, ascendeu profissionalmente.
A decepção com Arnoldo, no entanto, fez com que ela abandonasse a vida afetiva. Chegou a ter repulsa pelos homens, evitando-os por longos cinco anos. Deixou de assistir até os jogos da seleção de vôlei, ela achava o Giba um gato, Arnoldo até tinha ciúmes.
Recentemente, Clara Regina foi promovida na empresa, ou a ser Vendedora Master. A psicóloga que trabalha em Recursos Humanos informou que ela estava inscrita em um curso chamado "Você tudo pode", voltado a fortalecer a capacidade negocial dos Vendedores Masters da empresa. O que não faz a auto-ajuda, hein?
As crianças ficaram com o Arnoldo; ela viajou no domingo à tarde. Chegou no hotel, no Brooklin Novo, por volta de seis. O curso começaria somente no dia seguinte.
Clara Regina entrou no quarto e imediatamente entrou no banho.
Saiu do banheiro apenas com uma toalha enrolada na cabeça. Enquanto zapeava na TV a cabo, viu um daqueles guias turísticos disponíveis em quase todos os hotéis. Folheou-o.
Enquanto com um rabo de olho assistia ao programa do Faustão, com outro identificou um anúncio: Éder, romântico e discreto, deus de ébano, 1,80m, 75kg, pronto para satisfazer suas fantasias mais secretas, um Apolo negro, ligue 99?.
O coração de Clara Regina bateu mais forte. Depois de cinco anos fugindo de homens, estaria ela apta a uma aventura daquela ordem? Chamar um garoto de programa?
Olhou no espelho, irando seu corpo. Começara a aproximar-se dos 40 anos, mas para usar uma chauvinista expressão de um de seus ex-cunhados, ainda dava um bom caldo. E, ainda por cima, ninguém ficaria sabendo: Éder prometia discrição.
Pensou consigo, se pensar muito desisto. Com a avidez de um deputado sacando seu recurso não-contabilizado, pegou o fone e discou. Seria naquele dia.
Atendeu uma sensual voz masculina.
Clara Regina começou a falar, qual uma metralhadora:
? Boa Noite. Abro mão da parte romântica, quero sexo selvagem, uma longa e duradoura sessão. Traga algemas, chicotes, pomadas e outros órios que houver. Ah! Traga também geléia de uva e manteiga, sempre desejei sexo besuntado. Quero sexo a noite inteira! O que tu achas?
O dono da sensual voz masculina respondeu:
-Ora, parece ótimo, porém, para chamadas externas a senhora deve discar o zero antes. Nove é o número aqui da recepção?
O Dr. Gilberto Santiago, bem-sucedido advogado e meu amigo desde que fomos colegas de OR, contou-me esta história.O enredo credite-se a ele, a culpa pela narrativa é minha.Qualquer semelhança com fatos e personagens reais é mera coincidência.
Penso nela quando vejo alguns trabalhos de Marketing e de Comunicação nos quais a única coisa que não foi pensada foi o público-alvo.
Freqüentemente, identificam-se campanhas focadas no público infantil, com uma linguagem de adulto, ou vice-versa. Produtos populares são apresentados com uma mensagem excessivamente sofisticada.
É importantíssimo que toda pessoa , que tenha necessidade de comunicar algo, domine o repertório do grupo receptor. Ou seja, conheça o conjunto de códigos deste grupo. A campanha atual do HSBC brinca muito bem com este assunto.
Para conhecer este código, evidentemente, é necessário saber quem é este público receptor. É preciso saber com quem se está falando. Ir ao encontro do mercado.
Lembre. Clara Regina até pode ter ado uma semana tomando café no quarto e saindo do hotel camuflada todas as manhãs, mas de fechar a conta ela não escapou. Não escapou mesmo!