ESPM encerra graduação em Jornalismo
Não haverá mais ingressos de alunos nesse e em mais três cursos

Em junho deste ano, a Escola Superior de Marketing e Propaganda (ESPM) anunciou uma nova unidade em Porto Alegre. A estrutura está em reforma no bairro Moinhos de Vento. Agora em setembro, no entanto, a novidade é o fechamento de quatro cursos de graduação, entre eles o de Jornalismo. Além dele, istração, Design de Moda e Relações Internacionais não terão mais ingressos de estudantes. Serão mantidas as formações em Publicidade e Design - Comunicação Visual. É o que confirma a nota enviada pela assessoria de imprensa da instituição para a reportagem do Coletiva.net.
A universidade não explica especificamente os motivos para a decisão, mas cita que a mudança integra a constante atualização feita na grade curricular. "Após análise das demandas e tendências do cenário local, a ESPM decidiu por reposicionar os cursos de graduação da unidade Porto Alegre e reforçar o foco nas áreas de Comunicação e Publicidade e Design - Comunicação Visual", registra a nota. Ainda, a instituição esclarece que os estudantes matriculados não serão afetados, pois "seguirão tendo aulas normalmente até sua formatura". Conforme apurou o portal, a decisão não atinge o trabalho no novo espaço. Quanto às demissões de professores, a entidade disse não ter informações a rear.
Entidades lamentam
"É lamentável o fechamento de mais um curso de Jornalismo na Capital, principalmente um espaço que sempre teve ensino de excelência, formando profissionais muito capacitados", afirmou Laura Glüer, jornalista e diretora do Departamento Universitário da Associação Riograndense de Imprensa (ARI). A profissional entende que esse movimento, infelizmente, reflete uma tendência de mercado, que já aconteceu em outras instituições de ensino. "Voltamos a uma realidade muito próxima do que havia no início dos anos 2000, com um número menor de ofertas de curso", destacou.
A gestora defende que é preciso trabalhar para garantir a valorização do diploma e, principalmente, a credibilidade da profissão, reforçando o papel dos jornalistas para a sociedade, no combate às fake news e na apuração criteriosa dos fatos. "A carreira do Jornalismo precisará cada vez mais se reinventar frente a novos desafios como a Inteligência Artificial e a própria transformação da mídia e do público. Os cursos precisarão discutir e incorporar todas essas mudanças nos seus currículos e na prática pedagógica", sintetizou a comunicadora, que chegou a atuar como professora convidada por três semestres. "Tenho muita satisfação de ter feito parte do projeto ESPM, junto com uma equipe maravilhosa e alunos super dedicados", finalizou.
A valorização do diploma, com a obrigatoriedade dele para exercer o Jornalismo, é uma das principais causas do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors). Por isso, a presidente da entidade, Laura Santos Rocha, diz que o fechamento é uma lástima não só para a área, mas para todo o Brasil, em especial, "nesse momento em que a gente precisa que a nossa profissão seja cada vez mais valorizada". Isso porque, para a dirigente, um notícia falsa, que é o que normalmente ocorre quando as pessoas não têm o preparo acadêmico, pode causar grandes estragos, inclusive levar à morte das pessoas e adoecer uma sociedade. "Os bancos universitários existem exatamente para profissionalizar e capacitar a nossa categoria para que eles tenham condições de ouvir os dois lados, se posicionar perante a notícia e transmitir credibilidade para uma sociedade", acrescentou.
Assim como a representante da ARI, a presidente percebe que isso vem ocorrendo seguidamente no Estado, com muitos docentes perdendo o emprego. Ela entende que isso acontece pela falta de reconhecimento perante as autoridades do retorno da obrigatoriedade do diploma, "que seria realmente a sustentação para que a gente tenha uma imprensa reconhecida, séria e que tenha credibilidade no mercado. Só assim é que os veículos de Comunicação, é que as empresas poderão realmente voltar a se fortalecer".
Para Laura, a luta pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 206/2012, a PEC do Diploma, deve ser uma campanha não só das e dos jornalistas, e sim das empresas de Comunicação e de toda a sociedade. Dessa forma, ela crê, as universidades e as faculdades de Comunicação voltarão a se fortalecer, para que aqueles que entrarem no mercado estejam preparados para serem profissionais capacitados. Para ela, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2009, sobre a retirada do diploma "atacou toda uma estrutura que já existia e que estava funcionando".
Leia a íntegra da nota da ESPM:
A ESPM esclarece que realiza constante atualização na grade curricular e na oferta de cursos, em todas as praças onde atua, sempre pautada pela sua estreita conexão com o mercado de trabalho. Após análise das demandas e tendências do cenário local, a ESPM decidiu por reposicionar os cursos de Graduação da unidade Porto Alegre e reforçar o foco nas áreas de Comunicação e Publicidade e Design - Comunicação Visual. A decisão não afeta os alunos atualmente matriculados nos demais cursos, que seguirão tendo aulas normalmente até sua formatura.