"As fontes não falam sozinhas", declarou o editor do The Intercept Brasil
Alexandre de Santi foi o convidado da aula inaugural do curso de Jornalismo da Unisinos, que ocorreu nesta terça-feira, 17

Mesmo com a forte chuva, o auditório do Teatro Unisinos, que tem mais de 500 lugares, ficou quase lotado na noite desta terça-feira, 17. Alunos e profissionais do mercado estiveram no campus Porto Alegre da universidade para conferir a apresentação do editor do The Intercept Brasil, Alexandre de Santi, convidado da aula inaugural do curso de Jornalismo da Unisinos. No evento, que contou com a parceria do curso de Direito da instituição de ensino, falou sobre jornalismo investigativo e independente no Brasil.
Em sua explanação, De Santi comentou sobre as fontes e como se constrói a relação entre elas e os veículos. "Fonte não fala sozinha. Parece óbvio dizer que jornalista não tem poder de quebrar sigilo, mas é importante trazer esse assunto quando instituições acham o contrário", informou. Segundo apresentou, as fontes, quando buscam um veículo, querem que a denúncia vá adiante, que a informação tenha impacto e que tenha tratamento justo, além de, claro, proteção.
O jornalista gaúcho também comentou sobre a relação que os veículos de comunicação no Brasil e no mundo têm com grandes poderes, o que chamou de censura velada. "Eles não podem tocar em certos assuntos para não perder influência e dinheiro. É ingênuo pensar que os veículos não estão amarrados a grandes organizações", afirmou, acrescentando que é uma dependência mútua, pois é interessante para os poderosos que a imprensa funcione. Ele comentou, ainda, alguns casos de reportagens realizadas pela equipe do The Intercept Brasil. "Não foi estranho receber os arquivos da #vazajato, pois já lidamos com assuntos complexos antes. Mas a repercussão desse case foi surpreendente, inclusive internacional", avaliou.
Sobre a série de reportagens que denuncia as movimentações ilegais da Operação Lava Jato, De Santi informou que muitos detalhes são avaliados antes da publicação das matérias, com troca de ideias entre a equipe da redação e o setor jurídico. "Quando recebemos o material, debatemos muito e decidimos publicar devido à importância do tema para a sociedade e, com isso, cumprir com o nosso papel jornalístico", explicou. Em razão do tamanho dos arquivos, o time do The Intercept Brasil decidiu buscar parceiros - Band News FM, BuzzFeed News BR, Folha de S.Paulo, Veja, UOL Notícias e El País -, que aceitaram o desafio e, hoje, trabalham em conjunto.
Depois, ele participou de um bate-papo conduzido pela professora de jornalismo investigativo da Unisinos Luciana Kramer e pelo coordenador do curso de Direito da universidade, Guilherme de Azevedo. Nesse momento, ele respondeu a perguntas do público sobre a #vazajato, a mídia e a atuação do site, que opera há três anos no Brasil. "Dá trabalho ser transparente, mas sempre informamos o leitor quando e por que uma fonte é anônima. Nossa prioridade é a informação on the record. O off é exceção", avisou.
Questionado sobre os rumos que as investigações sobre a Lava Jato estão tomando, De Santi disse que o The Intercept Brasil não faz o jornalismo visando ao resultado, mas sim, ao impacto. "O resultado e os desdobramentos não dependem de nós", avaliou, adiantando que não se surpreenderia se as informações sobre o caso que vem abalando as estruturas governamentais ainda saíssem na mídia durante o próximo ano. "Tem muita coisa no arquivo que recebemos e estamos trabalhando com cautela nas divulgações", informou.
Além de alunos da universidade, profissionais do mercado participaram do evento, que era aberto ao público. Estiveram presentes o diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) Milton Simas, a professora do curso de Jornalismo da Ufrgs e ex-docente da Unisinos Thais Furtado, o repórter do SBT RS Andrei Rossetto, entre outros. A equipe de Coletiva.net também conferiu a palestra in loco.